Por:
Rogério de Camargo.
“O hábito de só escrever nos jornais aquilo que se lê nos jornais, num perpétuo e claustrofóbico ouroboros[2] (des)informativo. Asinum asinus fricat (“o asno afaga o asno”), como ensina o velho provérbio latino”.[3]
Temos
que ter o extremo cuidado ao consumir informações “jornalísticas”, pois, em sua
maioria, os jornalistas são detratores de informação e, os leitores que acabam
consumindo certas “informações” acabam que sendo idiotizados por essa classe
falante. Vejamos, como por exemplo, um caso que aconteceu nos EUA, e que
repercutiu aqui no Brasil, onde um adolescente negro foi morto por um vigia. Ao
ligar para a polícia, antes de seguir o jovem, o vigia chamado Zimmerman
teve o seguinte diálogo com o policial:
ZIMMERMAN: Esse cara não parece estar bem-intencionado. Ou está drogado ou algo do tipo. Está chovendo e ele fica só perambulando, como se procurasse alguma coisa.
POLICIAL: Certo. E esse sujeito – ele é negro, branco ou hispânico?
ZIMMERMAN: Parece negro.
Entretanto,
como de costume pela impressa que gosta da desinformação e do “politicamente
correto” passou a informação da seguinte maneira:
De posse da gravação, a rede de televisão NBC, a fala de Zimmerman transformou-se em: “Esse cara não parece estar bem-intencionado. Parece ser negro”.Fica claro que, originalmente, o aspecto racial não havia sido introduzido por Zimmerman, mas pelo policial. No entanto, a emissora não hesitou em fazer de Zimmerman um racista, introduzindo, de maneira artificial e espúria, um sério agravamento ao crime por ele cometido.Após a farsa ter sido revelada, a NBC emitiu uma nota de desculpas, qualificando o caso, mui convenientemente, de mero “erro de produção”. Mas, àquela altura, a irresponsabilidade criminosa da emissora já havia produzido um estrago. Os PCs [Politicamente Corretos] ficaram histéricos, fazendo do incidente um cavalo de batalha. Neste momento, o leitor poderia sentir-se tentado a perguntar: mas o jornal O Globo terá publicado a falsificação e o pedido de desculpas da NBC? A resposta deveria ser óbvia para aqueles que conhecem minimamente o ambiente cultural em que estamos vivendo: não.[4]
Essa é
a classe falante que tem influenciado a grande maioria da população brasileira,
pelo menos, os que consumem essas informações “jornalísticas”. Sinto lhes dizer
que, esse, ao consumir certas informações, a princípio, procura analisar seu
contexto, pois, já conhece de cor e salteado o mal caráter que são esses “formadores
de opinião”.
Sinto
muito ter que fugir um pouco do contexto que este fórum nos apresenta, porém,
quando se fala de fontes “jornalística” devemos tomar um mínimo de cuidado.
[1] Termo criado pelo jornalista e
professor da USP, Rolf Kuntz, o vício de só escrever nos jornais aquilo que só
se lê nos jornais.
[2]
Ouroboros do Grego antigo οὐρά significa
"cauda" e βόρος, que significa "devora".
[3] GORDON, Flávio. A
Corrupção da Inteligência, intelectuais e poder no Brasil, p. 73, 10° ed. Rio
de Janeiro, Record 2019.
[4] Cf: GORDON, Flávio. A Corrupção da
Inteligência, intelectuais e poder no Brasil, p. 127,8, 10° ed. Rio de Janeiro,
Record 2019.
Nenhum comentário:
Postar um comentário