REFORMA PSICOLÓGICA

segunda-feira, 1 de abril de 2019

ENTRE HISTÓRIAS E NARRATIVAS

Por: Rogério de Camargo



COMPREENDER ACONTECIMENTOS HISTÓRICOS:

A história deve ser compreendida através do próprio acontecimento histórico e não através de narrativas de grupos que procuram defender propostas políticas. Quando confundem propostas políticas e as misturam com contextos históricos temos uma falsa narrativa do que foi história, e isso, grupos de Esquerda que procuram defender uma visão romântica tanto da história quanto da política acabam tropicando em pontos cabais a respeito do que é história, como por exemplo, a falsa narrativa da Ditadura Militar, a importação dos escravos negros, a escravidão dos índios na colonização portuguesa aqui no Brasil, a falsa narrativa sobre Zumbi dos Palmares, etc., etc.
Vejo o que de fato foi a Ditadura Militar:


Quando Carlos Marighella – que compareceu à conferência da Olas – proclamou que a luta armada era o único caminho para derrotar o regime militar, estava representando um amplo setor da esquerda que dava adeus às “ilusões burguesas”.


Foi exatamente assim que tudo começou a Esquerda Brasileira não conformada com a eleição indireta de Castelo Branco no Congresso Nacional – e depois sendo sucedido por Costa e Silva – apelou para o terrorismo, com o intuito de tomar o país a força enviou manifestantes para China para treinarem tática de guerrilha e, ao retornarem ao Brasil a desordem começou:


A esquerda estava fracionada em diversos grupos. E todos com seu projeto de golpe. O Partido Comunista Brasileiro imaginava que poderia apoiar Jango – como declarou Prestes indiretamente no programa Pinga Fogo – na aventura golpista ou, com base na suposta influência que tinha nas Forças Armadas, tentar o “seu” golpe. O Partido Comunista do Brasil (PC do B) era politicamente inexpressivo. Mesmo assim, enviaria um primeiro destacamento de militantes para treinamento guerrilheiro na China, ainda em março de 1964.  O regime militar brasileiro não foi uma ditadura de 21 anos. Não é possível chamar de ditadura o período 1964-1968 (até o AI-5), com toda a movimentação político-cultural que havia no país. Muito menos os anos 1979-1985, com a aprovação da Lei de Anistia e as eleições diretas para os governos estaduais em 1982. Que ditadura no mundo foi assim?
Nos últimos anos se consolidou a versão de que os militantes da luta armada combateram a ditadura em defesa da liberdade. E que os militares teriam voltado para os quartéis graças às suas heroicas ações. Em um país sem memória, é muito fácil reescrever a história. A luta armada não passou de ações isoladas de assaltos a bancos, sequestros, ataques a instalações militares e só. Apoio popular? Nenhum.
Argumenta-se que não havia outro meio de resistir à ditadura a não ser pela força. Mais um grave equívoco: muitos desses grupos existiam antes de 1964 e outros foram criados pouco depois, quando ainda havia espaço democrático (basta ver a ampla atividade cultural de 1964-1968). Ou seja, a opção pela luta armada, o desprezo pela luta política e pela participação no sistema político, e a simpatia pelo foquismo guevarista antecederam o AI-5 (dezembro de 1968), quando, de fato, houve o fechamento do regime.  A esquerda que desprezava a luta política também estava em ritmo de guerra. A 19 de março, a Vanguarda Popular Revolucionária (VPR) explodiu uma bomba no consulado americano, em São Paulo. O jovem Orlando Lovecchio, que passava pelo prédio no momento da explosão da bomba, acabou gravemente ferido e com uma perna amputada.
No mês seguinte, mais duas bombas explodiram em São Paulo: uma no jornal O Estado de S.Paulo e outra na sede da Bolsa de Valores.



Também temos relatos da bravura do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, uma pessoa que lutou arduamente contra os grupos terroristas de Esquerda que tentavam tomar o Brasil a força para implantar uma Ditadura do Proletariado, confira:


Em 1968, a partir das idéias de Marighella, se intensificam e aperfeiçoam os atos de terror e as tentativas de implantação da guerrilha urbana e rural. Começam a atuar, ativamente, algumas das seguintes organizações terroristas: Ação Libertadora Nacional (ALN), Ala Vermelha do PC do B, Comando de Libertação Nacional (COLINA), Movimento de Libertação Popular (MOLIPO), Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8), Movimento Revolucionário Tiradentes (MRT), Partido Comunista Brasileiro Revolucionário (PCBR), Partido Comunista Revolucionário (PCR), Vanguarda Armada Revolucionaria Palmares (VAR-PALMARES), Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), Resistência Democrática (REDE) e outras. Começaram, a seguir, os atos de terror: assaltos a bancos, seqüestros, assassinatos, ataques às sentinelas e rádio-patrulhas, furtos e roubos de armas dos quartéis e muitos outros. Na época eu não sabia que estes fatos teriam em minha vida uma importância maior do que para a maioria dos brasileiros. Não imaginava que seria um, dentre muitos, a combater o terror que começava a ser implantado no Brasil. Não esperava que seria um dia injuriado e caluniado por ter cumprido com o meu dever, lutando em uma guerra perigosa e suja, contra inimigos desconhecidos, militarmente treinados e dispostos a tudo, para implantar, no Brasil, uma ditadura de esquerda.
Para melhor orientar a sua organização, Marighella difundiu, em junho de 1969, o “Minimanual do Guerrilheiro Urbano”.
A obra, traduzida em vários idiomas, serviu de “livro de cabeceira” para as BRIGADAS VERMELHAS na Itália e para o grupo terrorista BAADER-MEINHOFF na Alemanha. Ela expressa o pensamento de Marighella e o que se deve esperar dos grandes grupos extremistas.

 Trechos extraídos do Minimanual:
 “No Brasil, o volume de ações violentas praticadas pelos guerrilheiros urbanos, incluindo mortes, explosões, captura de armas, munições, explosivos, assaltos a bancos, etc... já representa algo de ponderável, para não deixar margem a qualquer dúvida sobre os reais propósitos dos revolucionários”.
“O justiçamento do espião da CIA, Charles Chandler, — militar norte-americano que veio da Guerra do Vietnam para se infiltrar no meio estudantil brasileiro, os “tiras” e policiais militares que têm sido mortos em choques sangrentos com os guerrilheiros urbanos, tudo isto atesta que estamos em plena guerra revolucionária e que a guerra só pode ser feita através de meios violentos”. (o grifo é do autor).


IMPORTAÇÃO DOS ESCRAVOS NEGROS:

A narrativa falsa de que os escravos africanos que vieram para o Brasil vieram forçados pelos portugueses é um tremenda mentira e o pior é que isso é ensinado para os jovens que estão ingressando nas universidades e depois eles se tornam formadores de opinião e passam a ensinar as nossas crianças com essas falácias. Os próprios negros vendiam os seus negros e os mesmos vieram forçados pelos seus senhores negros embaixadores.


(...) Como um pedaço da África, cristão e falante de português, o Brasil também abrigou reis africanos que vinham se exilar no país quando a situação do seu reino complicava, embaixadores negros interessados em negociar o preço de escravos, e até mesmo filhos de nobres africanos que vinham estudar na Bahia, numa espécie de intercâmbio estudantil. Esses fenômenos certificam uma boa metáfora que Joaquim Nabuco usa no livro O Abolicionismo, clássico do movimento brasileiro pelo fim da escravidão. Nabuco dizia que o tráfico negreiro provocou uma união das fronteiras brasileiras e africanas, como se a África tivesse aumentado seu território alguns milhares de quilômetros. ”Lançou-se, por assim dizer, uma ponte entre a África e o Brasil, pela qual passaram milhões de africanos, e estendeu-se o habitat da raça negra das margens do Congo e do Zambeze às do São Francisco e do Paraíba do Sul.” Com os mais de 4 milhões de escravos que vieram forçados ao Brasil, veio também a África.


SOBRE A ESCRAVIDÃO DE ÍNDIOS:

A quem diga que os índios foram obrigados a praticar a cultura dos portugueses, entretanto se fomos pesquisar de fato o que aconteceu, encontraremos relatos de que os índios tinham total interesse na cultura européia, pois eles (os índios) para conseguir algum objeto vindo da mão dos portugueses eles eram capazes de venderem os seus próprios familiares.


(...) Os índios travaram entre si guerras duríssimas na disputa pela aliança com os recém-chegados. Passaram a capturar muito mais inimigos para trocar por mercadorias. Se antes valia mais a qualidade, a posição social do inimigo capturado, a partir da conquista a quantidade de mortes e prisões ganhou importância. Por todo o século 16, quando uma caravela se aproximava da costa, índios de todas as partes vinham correndo com prisioneiros - alguns até do interior, a dezenas de quilômetros. Os portugueses, interessados em escravos, compravam os presos com o pretexto de que, se não fizessem isso, eles seriam mortos ou devorados pelos índios. Em 1605, o padre Jerônimo Rodrigues, quando viajou ao litoral de Santa Catarina, ficou estarrecido com o interesse dosíndios em trocar gente, até da própria família, por roupas e ferramentas:Tanto que chegam os correios ao sertão, de haver navio na barra, logo mandam recado pelas aldeias para virem ao resgate. E para isso trazem a mais desobrigada gente que podem, scilicet, moços e moças órfãs, algumas sobrinhas, e parentes, que não querem estar com eles ou que os não queremservir, não lhe tendo essa obrigação, a outros trazem enganados, dizendo que lhe farão e acontecerão e que levarão muitas coisas [...]. Outro moço vindo aqui onde estávamos, vestido em uma camisa, perguntando-lhe quem lha dera, respondeu que vindo pelo navio dera por ela e por alguma ferramenta um seu irmão, outros venderam as próprias madrastas, que os criaram, e mais estando os pais vivos.  (...) Costuma-se deixar de fora da conta o índio colonial, aquele que largou a tribo, adotou um nome português e foi compor a conhecida miscigenação brasileira ao lado de brancos, negros e mestiços - e cujos filhos, pouco tempo depois, já não se identificavam como índios.Não foram poucas vezes, nem só no Rio, que isso aconteceu. Por todo o Brasil, índios foram para as cidades e passaram a trabalhar na construção de pontes, estradas, como marceneiros, carpinteiros, músicos, vendendo chapéus, plantando hortaliças e cortando árvores - e até caçando negros fugitivos. Nas aldeias ao redor de São Paulo, não se sabe de cargos vitalícios como entre os Souza de Niterói, mas há sinais de que os índios aldeados também se integraram. Em 2006, o historiador Mareio Marchioro achou documentos com nome, cargo, idade, profissão e número de filhos dos chefes indígenas na virada do século 18 para o século 19. São todos nomes portugueses, ”todos antecedidos da palavra ’índio’”. Esses nativos da terra devem ter ajudado a tornar comuns alguns sobrenomes brasileiros.


RELAÇÕES DE PODER E PROCESSOS:

Como diria o professor Olavo de Carvalho: “PODER não consiste em dar ordens em nome de uma autoridade oficial. Consiste em SER OBEDECIDO”. Isso sim é poder!
Processos são fatos históricos que ocorrem ao longo de uma vida. Atualmente estamos vivenciando uma nova era na política, um grande número de políticos jovens acabam de ingressar na vida pública, isso é um novo processo, os eleitores escolheram isso.


MECANISMOS DE TRANSFORMAÇÃO E MANUTENÇÃO DAS ESTRUTURAS SOCIAIS, POLÍTICAS, ECONÔMICAS E CULTURAIS AO LONGO DO TEMPO E EM DIFERENTES ESPAÇOS PARA ANALISAR, POSICIONAR-SE E INTERVIR NO MUNDO CONTEMPORÂNEO:

Mecanismo de transformação nada mais é que a utilização das superestruturas pelos agentes. Pois, são os agentes responsáveis pela propagação da manutenção das estruturas através das infra-estruturas fazendo com que as ordens SOCIAIS, POLÍTICAS, ECONÔMICAS E CULTURAIS sejam desconstruídas ou construídas de acordo com a sua ideologia. Dessa forma, é possível mudar completamente o Establishment da maneira que bem entendi, porém isso é um processo que leva anos ou até mesmo décadas, pois estamos tratando duma mudança de comportamento e não duma troca de casais. Fácil é você fazer um cão entender que não pode fazer xixi no pé do sofá, pois o cão é dócil, amoroso e faz o que puder para agradar o seu dono, diferente dum ser humano racional que já tem a sua cabeça formada por opiniões de terceiros, esses que ele julga ser seus tutores ou gurus. Por esse motivo que o mecanismo de transformação é aplicado principalmente nas escolas, pois é nas escolas que se encontram um número considerável de pessoas ainda com opiniões não formadas, prontos para aderirem à causa preposta e para defenderem aquilo que lhes foram apresentados como ideal. Isto é, utopias!
Sobre as superestruturas vejamos o que diz o criador dessa ideia:


A insistência sobre o elemento “prático” da ligação teoria prática — após se ter cindido, separado e não apenas distinguido os dois elementos (o que é uma operação meramente mecânica e convencional) — significa que se está atravessando uma fase histórica relativamente primitiva, uma fase ainda econômico-corporativa, na qual se transforma quantitativamente o quadro geral da “estrutura” e a qualidade superestrutura adequada está em vias de surgir, mas não está ainda organicamente formada. Deve-se sublinhar a importância e o significado que têm os partidos políticos, no mundo moderno, na elaboração e difusão das concepções do mundo, na medida em que elaboram essencialmente a ética e a política adequadas a elas, isto é, em que funcionam quase como “experimentadores” históricos de tais concepções. Os partidos selecionam individualmente a massa atuante, e esta seleção opera-se simultaneamente nos campos prático e teórico, com uma relação tão mais estreita entre teoria e prática quanto mais seja a concepção vitalmente e radicalmente inovadora e antagônica aos antigos modos de pensar.  (...)Todo novo organismo histórico (tipo de sociedade) cria uma nova superestrutura, cujos representantes especializados e porta-vozes (os intelectuais) só podem ser concebidos também como “novos” intelectuais, surgidos da nova situação, e não como a continuação da intelectualidade precedente. Se os “novos” intelectuais se colocam como continuação direta da intelligentsia precedente, não são verdadeiramente “novos”, isto é, não são ligados ao novo grupo social que representa organicamente a nova situação histórica, mas são um rebotalho conservador e fossilizado do grupo social historicamente superado (o que, de resto, é o mesmo que dizer que a nova situação histórica ainda não atingiu o grau de desenvolvimento necessário para ter a capacidade de criar novas superestruturas, mas vive ainda no invólucro carcomido da velha história).  (...)Sem ter compreendido esta relação, ao que parece, é impossível compreender a filosofia da práxis, sua posição em face do idealismo e do materialismo mecânico, a importância e a significação da doutrina das superestruturas.


SOBRE ZUMBI DOS PALMARES

A respeito de Zumbi dos Palmares também temos uma narrativa completamente antagônica daquilo que de fato realmente ele foi, pois vale ressaltar primeiramente que a narrativa criada a respeito de Zumbi dos Palmares foi “obra do jornalista gaúcho Décio Freitas, amigo de Leonel Brizola e do ex-presidente João Goulart. No livro Palmares: A Guerra dos Escravos”. Narloch em seu livro também conta que os quilombos faziam ataques a vilarejos com o intuito de resgatar escravos, porém os escravos que “conseguiam chegar aos Palmares, eram considerados livres, mas os escravos raptados ou trazidos à força das vilas vizinhas continuavam escravos, afirma Edison Carneiro no livro O Quilombo dos Palmares, de 1947”.

Por fim, temos também a grande mídia que, com muita freqüência propaga um “politicamente correto”, fazendo da cabeça dos telespectadores um pinico de tanta merda que eles bostejam. E é exatamente dessa forma que o mundo segue, com opiniões avessas, umas mais coerentes e outras nem tanto assim, em meio a guerras culturais e a desinformação sendo propagado como verdade absoluta, esse, sempre se posicionará contra o “politicamente correto” que sempre esteve pronto para INTERVIR NO MUNDO CONTEMPORÂNEO com suas utopias e mentiras escancaradas.



REFERÊNCIAS:
VILLA, Antônio. Ditadura à brasileira – 1964-1985: A democracia golpeada à esquerda e à direita. Pág., 9, 28, 75, 80 – São Paulo: LeYa, 2014.
USTRA, Carlos Alberto Brilhante. Rompendo o Silêncio, Pág., 22, Supervistual.
NARLOCH, Leandro. GUIA POLITICAMENTE INCORRETO DA HISTÓRIA DO BRASIL. Pág., 13, 18, 43, 47, 48 – São Paulo: LEYA, 2009.
GRAMSCI, Antonio, 1891-1937 Cadernos do cárcere, volume 1 / Antonio Gramsci; edição e tradução, Carlos Nelson Coutinho; co-edição, Luiz Sérgio Henriques e Marco Aurélio Nogueira. ., Pág., 111, 112, 136, 151, 152 — Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1999.