REFORMA PSICOLÓGICA

sábado, 8 de dezembro de 2018

SOBRE A PADRONIZAÇÃO

Por: Rogério de Camargo.




É notório saber que, de fato o aluno deve ser e ter uma voz ativa em uma sala de aula, pois, ele deve expressar aquilo que ele entendeu e o que ele não entendeu da matéria lecionada pelo professor. Logo, o aluno sendo participativo das aulas, isso faz com que o aprendizado flui com mais precisão. Ademais, a duvida de uma pessoa também pode ser a duvida dos demais alunos e, somente com uma voz ativa é possível de ser sanado o que um dia era impossível de compreender. Vejamos o que o Trivium diz sobre isso:


(…) a atividade essencial do estudante é relacionar os fatos aprendidos num todo unificado e orgânico, assimilando-os tal como um corpo assimila alimentos, ou, ainda, como a rosa assimila nutrientes do solo e daí cresce em tamanho, vitalidade e beleza. (Joseph, Miriam. O Trivium, pág., 31 e 32)


Do mesmo modo, foi possível também encontrar na apostila da universidade São Camilo no curso de pedagogia (Unidade Educacional XII – Profissionalização Docente:Educação Matemática, MÓDULO IV) a mesma ideia que O Trivium traz, confere:

Os registros próprios do aluno continuam sendo importantes fontes de informação para o professor, pois neles é possível identificar o raciocínio do aluno, a forma como ele organiza os problemas, a estratégia de solução e o uso dos algoritmos. (Unidade Educacional – XII Profissionalização Docente: Educação Matemática. Pág., 39).


Entretanto, o que é impossível de engolir é o que a apostila mencionada anteriormente diz sobre “exigir do aluno uma padronização de escrita”, uma vez que, as crianças se espelham e procuram imitar os mais velhos, e se, nós mais velhos não instrui-los ao caminho correto da escrita, isto é, a uma padronização, quem os ensinará então? Vejamos o que a apostila da universidade São Camilo diz a respeito:


Ainda não faz sentido exigir do aluno uma padronização de escrita ou ouso de um ou outro algoritmo em detrimento de outras estratégias próprias de resolução que ele apresenta, mas é cada vez mais importante ajudá-lo a perceber que existem estratégias melhores, mais eficientes, mais rápidas e menos trabalhosas. (Unidade Educacional – XII Profissionalização Docente: Educação Matemática. Pág., 39 e 40)


O fato de uma pessoa mostrar para um aprendiz que existem outras formas melhores e mais eficientes no que diz respeito a escrita isso não significa que ele irá aplicar esse método ou outro qualquer. Entretanto, como este disse anteriormente, “as crianças se espelham e procuram imitar os mais velhos, e se, nós mais velhos não instruí-los ao caminho correto da escrita, isto é, a uma padronização, quem os ensinará então?” A irmã Miriam em O Trivium disse:


Uma vez que a comunicação envolve o exercício simultâneo da lógica, da gramática e da retórica, estas são as artes fundamentais da educação: ensinar e ser ensinado. Consequentemente, devem ser aplicadas simultaneamente pelo professor e pelo aluno. O aluno deve cooperar com o professor; deve ser ativo e não passivo. (Joseph, Miriam. O Trivium, pág., 31).


Em resposta a Revista Veja, vejamos o que o professor Olavo de Carvalho disse a esse respeito duas décadas atrás:


A padronização pode ser um mal inevitável. Mas para que exagerar, vendo nela um bem absoluto, o modelo mesmo de boa escrita? Que um chefete, cioso da carreira, chegue a introjetar tão profundamente o perfil do produto que lhe encomendam, ao ponto de mesmo nas horas de folga não ser capaz de formar frases fora das especificações dele sem sentir culpa e remorso, é coisa que compreendo; que ele deseje em seguida moldar a cabeça de seus subordinados segundo essas mesmas especificações, em prol da disciplina e da eficiência, é coisa que não só compreendo como também admito e até louvo. Mas que ele, enfim, num acesso de autoglorificação, se imagine transfigurado num mestre de português, literatura ou “estilo”, é demais. Nenhum tecelão da R. José Paulino, ao ajustar suas máquinas para que as blusas saiam na medida, imagina estar fixando os padrões para o julgamento da elegância mundial.
Executivos de carreira metidos a teóricos de literatura são o flagelo das redações. Em nome de um perfil de produto, contingência comercial elevada a regra áurea do juízo estético, eles impõem padrões de gosto, lascam a caneta à vontade, divertem-se sadicamente brincando de Graciliano Ramos ante uma plateia de foquinhas assustados, os quais, nunca tendo lido o Graciliano de verdade, acreditam mesmo que ele seria capaz de escrever uma coisa mimosa como esta do manual de Veja: “Frase curta é bom e eu gosto. Com uma palavra só. Assim. Tente”. Sim, tente: faça uma frescura diferente. Graciliano tinha o senso da continuidade melódica, jamais confundiria frases curtas com solavanquinhos histéricos. Nem proferiria máximas desta profundidade abissal: “Ninguém escreve direito se não ler”, sentença que seria digna do Conselheiro Acácio, se não fosse, aliás, da autoria dele mesmo. Tomando normas de produção como critérios de gosto literário, essa gente está transformando o jornalismo naquilo que seus detratores desejariam que fosse: a espécie mais típica de subliteratura.



Por fim, é possível concluir dizendo que há uma padronização a ser seguida sim, isso é fato. Qual o professor que irá gostar de ver os escritos dos seus alunos inelegível ou até mesmo flutuando entre uma linha e a outra do caderno? Acreditamos que nenhum professor iria gostar disso. Entretanto, aquele aluno que procura escrever da melhor forma possível para que a sua mensagem possa ser transmitida de forma coerente e inteligível, esse, pode ter certeza que se inspirou em alguém, ainda que não seja o seu professor acadêmico, mas se for, pode ter certeza que o seu professor terá maior orgulho em dizer: “esse é meu aluno!”





REFERÊNCIAS:

JOSEPH, Miriam. O Trivium, as artes liberais da lógica, gramática e retórica, Editora É Realizações, 2008.

ANTONIO, José Carlos. Unidade Educacional XII – Profissionalização Docente:Educação Matemática, MÓDULO IV.

http://www.olavodecarvalho.org/a-arte-de-escrever-licao-1-esqueca-o-manual-deredacao/

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